Ronie Gabbi

Lições de Bruxelas

Meus caros, a coluna de hoje será além-mar! Um diário de viagem recheado de ideias que quero compartilhar com vocês. Desde o dia 12, estou na Bélgica, participando do Bruxelas Urban Summit 2023 – Respostas Urbanas aos Desafios Globais, ao lado do vice-prefeito de Santa Maria, Rodrigo Decimo. Este evento na Capital da União Europeia reúne líderes de mais de 300 cidades do mundo que compartilham ideias, projetos, iniciativas e desafios de urbanização do nosso presente e futuro. 


Na coluna de hoje, trago para vocês algumas percepções que podemos, e devemos, trazer para Santa Maria!


  • No processo de revitalização das cidades, além de respeitar a história e seu patrimônio arquitetônico, é preciso pensar em muitas opções de gastronomia. Fundamental para o sucesso. Pessoas do mundo inteiro visitam a Grand Place de Bruxelas e fazem filas para comer chocolate, batata frita, waffle e tomar cerveja belga. Neste lugar mágico, a gastronomia típica está entre os atrativos principais.
  • No processo de desenvolvimento das cidades, o carro não deve ser grande protagonista da região central, mas sim a facilidade de as pessoas se movimentarem. Transporte público integrado – ônibus, trem e metrô que compartilham do mesmo tíquete e com possibilidade de o passageiro levar seu patinete elétrico com ele. Faixas de rolamento para bikes e patinetes, calçadas largas, ruas com restrições de horários para veículos, mesas de bares e cafés nas ruas após certo horário. Tudo pensado para facilitar a circulação de pessoas e a vida do local.
  • A tecnologia deve ser utilizada como facilitador da vida urbana. Emissão de tíquete de transporte público pela web ou em totens pela cidade é um exemplo. Nos estabelecimentos comerciais, caixa automatizado, inclusive de dinheiro em espécie.
  • A migração de pessoas, como estudantes, militares e funcionários públicos, traz com ela a diversidade e, principalmente, oportunidades de desenvolvimento. O desafio é acolher, pertencer e cuidar.
  • O artesanato identitário foi transformado em souvenires que fortalecem o comércio. As casas de Bruxelas inspiraram embalagens coloridas, caixinhas em formato de casinhas, que embalam o melhor chocolate para os turistas. Assim como as nossas casas da Vila Belga, que inspiram arte em miniatura e são comercializadas no Brique da Vila Belga.
  • A gastronomia da Vila Belga pode e deve ser tão identitária quanto a de Bruxelas, onde a batata frita, o waffle e a cerveja compõem o cardápio turístico. A batata belga é servida em cones de papel (já sabemos fritar, é só modular os molhos). E que tal desenvolver (dica gratuita aos nossos cervejeiros locais) uma cerveja belga da Vila Belga, com rótulo comemorativo?

O que o chocolate, a cerveja, a batata e o waffle belga nos ensinam

A teoria dos sistemas dinâmicos diz que é impossível entender um sistema complexo com apenas uma perspectiva. Ou seja: o movimento para o desenvolvimento de uma cidade ou de um território se dá pela interação complexa entre as várias perspectivas. O que isso significa na prática? Que cultura gastronômica, turismo, artesanato identitário, comércio, turismo de eventos, turismo religioso e revitalização arquitetônica são perspectivas que compõem um sistema urbano complexo e, assim, devem ser considerados.

 
No meio a essa complexidade, em Bruxelas, alguns atrativos trazem vida para o sistema urbano. O mundo sabe que o chocolate belga é espetacular, que a cerveja está entre as melhores do mundo, que a batata frita é considerada a melhor (realmente é excelente, mas continua sendo batata frita bem feita).

 
A realidade é que os bares, os restaurantes, as lojas de batata frita e de waffle têm sempre filas e filas – e olha que o atendimento não é tudo aquilo. Percebe-se claramente que o chocolate, a cerveja, o waffle e a batata frita são “envelopados” pelo marketing de todos (exemplo de cooperação por um objetivo comum) como os melhores do mundo, e assim, um produto potencializa o outro, trazendo cada vez mais vida e construindo um posicionamento para a cidade. 


Será que não precisamos comunicar melhor nosso xis, nossa pizza gigante e nosso galeto? Um aprendizado: revitalização, gastronomia, comércio, cultura e turismo precisam cooperar e andar juntos com visão sistêmica para desenvolver uma cidade.

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